quarta-feira, 21 de julho de 2010

A crônica do cláudio...

Uma vítima de outra vítima

Ontem, estava eu em um ponto de ônibus, mais precisamente, na caixa d’água do Parque Piauí, mais ou menos por volta das 6h da manhã, logo após uma longa noite de trabalho, Cansado, ressacado, morrendo de sono, com um olho fechado e outro aberto para não perder a chegada do ônibus que já estava atrasado a pelo menos uns 15 ou 20 minutos... Quando de repente encostaram-se a mim três elementos gritando: passa tudo, bora porra! Passa tudo! Logo me despertei naquela realidade, pois estava completamente distraído, ouvindo musicas pelos fones de ouvido que saia do meu aparelho celular, que foi o que chamou a atenção dos marginais. E numa curta resistência corporal, vi o meu aparelho celular e todos os meus contatos serem levados embora por aqueles meliantes que estavam armados e visivelmente drogados.
Por um segundo, ainda pensei em pedir-lhes para que não levassem o chip, pois tinha ali todos os contatos importantes que eu tinha reunido ao longo de pelo menos 10 anos, inclusive, os mais recentes, de pessoas que eu precisava urgentemente ligar e que eu não sabia de cor. Mas, como eles não tinham levado minha carteira, e que justamente naquele momento, continha todo o dinheiro do fruto de um trabalho suado, de três noites seguidas, servindo mesas, limpando chão, lavando pratos, copos, e talheres; além dos abusos de bêbados e da exploração do dono bar, onde eu estava fazendo um bico de garçom pra ver se dava uma aliviada no orçamento lá de casa... Achei melhor deixá-los levarem o aparelho mesmo com o chip, para que não lhes despertasse o interesse por algo a mais; no caso, todo o dinheiro que eu tinha na vida.
Naquele momento, fiz uma rápida reflexão de toda a situação, reconheci que na verdade eu estava sendo vitima de dois crimes consecutivos. Primeiramente, eu estava sendo vitima de um sistema capitalista mercenário, que enriquece a custa da exploração dos menos abastados e necessitados, que se tornam obrigados a submeter-se a subserviência de suas atividades mais essenciais, e que na verdade não significam nada em relação ao valor material de sua importância de trabalho. E um segundo crime, cometido pelas verdadeiras vítimas do sistema social, que vivem a margem da vida; e que tem os seus dias contados para servirem de adubo para a fertilização do submundo marginal, necessário para a manutenção e equilíbrio da desigualdade social. Após essa reflexão, respirei fundo e dei graças a Deus por ainda estar vivo e ter a capacidade de poder comprar outro aparelho celular, mais moderno ainda, na semana que vem.
A minha única pena mesmo foi ter perdido a minha agenda telefônica... Que merda!


Taiguara Bruno

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